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Era coxinha e virei mortadela

Estudo o direito público há mais de 20 anos. Durante este tempo lecionei e escrevi livros e artigos. Todo esse trabalho tem uma única tônica: a defesa incondicional do Estado de Direito.
Sempre defendi que a lei tem que ser respeitada. O respeito, em primeiro lugar, vem do Estado, que deve dar o exemplo, mas os cidadãos tampouco podem se furtar a respeitar as normas vigentes e os valores consagrados na Constituição.
Denuncio, há muito, que o direito administrativo brasileiro vem se tornando autoritário e que a liberdade de manifestação deve se dar nos estritos limites da lei. Escrevi artigos com os títulos de “manifestar é preciso, quebrar não é preciso” e “movimentos criminais”. Defendi que manifestações públicas não podem ser feitas por intermédio da prática de atos ilícitos.
Diante do que escrevi fui chamado de burguês, atrasado, autoritário e coxinha. Nunca me incomodei. Os rótulos estão apenas na cabeça daquele que rotula, e não no rotulado.
Digo isso porque escrevi há mais de dois anos o seguinte trecho: “É preciso lembrar que, em um Estado de Direito, os meios são tão importantes quanto os fins. O combate à corrupção não pode ser feito à margem da Constituição. A linha seguida no presente trabalho visa contribuir para a correção dessa situação”. Essa passagem está em meu livro sobre improbidade administrativa.
Essa é a tese que utilizam os chamados “mortadelas” para defender os atos do atual governo. Sem mudar uma linha do que sempre defendi fui passado de um lado da barricada para o outro. Em um artigo, publicado em uma rede social, ganhei o comentário de que em breve receberei o que mereço.
Sei lá o que mereço, mas estou cansado desses rótulos. Ninguém deve defender ou atacar alguém por ser coxinha ou mortadela. É possível ser de direita ou esquerda e ser contra o governo ou a favor dele. Basta ter coerência. É preciso ter compromisso com a própria história de vida e cuidar para não engordar, pois, de tanto ouvir falar em coxinha e mortadela, é fácil ficar com fome.
 

Pesadelos

Meu filho anda tendo pesadelos. Procuro evitar estímulos perto da hora de dormir e não o deixo ver filmes ou desenhos violentos. Mesmo assim, eles surgem. Algumas vezes, acorda gritando ou dorme agitado, mas não lembra o que houve. Nessas horas, procuro confortá-lo, colocando-o no colo ou falando baixinho que estou ao lado dele. Ele se acalma.
 
Comecei a refletir por que isso acontece e percebi que o conceito do que é terrível varia. Crianças têm uma percepção diferente das coisas, e os adultos não se dão conta disso.
 
Lembrei que, certa vez, uma menina pequena comentou comigo que vira um filme de terror. Tratava-se da Fuga das galinhas. As penosas fugiam de um galinheiro para não virarem torta. Aqueles que riram, achando que isso não é filme de terror, não pensaram que alguém pudesse tentar fazer torta de pessoas. Somente crianças pensam essas coisas.
 
Durante minhas reflexões, o Pedro lembrou-se de um pesadelo. Certamente foi um dos mais terríveis que já teve. O Drácula tomou todo o seu “mamá” e deixou a mamadeira mordida. Quando ele viu aquilo, jogou a mamadeira fora. O Drácula, então, entrou em sua blusa de pijama e fez “buuuu”.
 
Nem sabia que ele conhecia o Drácula, mas fiquei pensando que o sonho foi mesmo terrível. O bicho feio veio, roubou o que ele mais gosta e largou o copinho mordido. Para terminar, entrou em seu pijama e fez “buuuu”! Isso realmente não deve ter sido fácil.
 
Perguntei para a família como ele conhecia o dito vampiro, e alguém se lembrou que um dia viu o menino assistindo o desenho do Scooby Doo. O pequeno colocava a cabeça debaixo das almofadas do sofá nas partes “terríveis”. Algumas vezes, espiava com o cantinho do olho, por debaixo das almofadas. Nem pensava em mudar de canal.
 
Depois de saber disso, aboli esse desenho e comecei a cuidar ainda mais do que ele assiste para que possa dormir melhor. Vinícius e Toquinho cantavam em uma de suas músicas: “dorme meu pequenininho, dorme que a noite já vem. Dorme meu pequenininho, dorme que a vida já vem”. Enquanto ela não vier, teu pai zela acordado o filho que ele quer bem.
 

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