Viajar é apenas o tubo de oxigênio que nos permite mergulhar mais fundo na nossa estranheza e insegurança,
que nos obriga a lidar com a dificuldade de se expressar num idioma diferente e nos faz encontrar outros meios para nos traduzirmos, que prepara nosso olhar para novas combinações de cores e novas formas arquitetônicas, que refina nosso paladar para sabores esquisitos, que confirma a existência daquilo que para nós existia apenas corno um delírio, que nos faz compreender que há outros jeitos de cumprimentar as pessoas, outros tipos de casamento, outras formas de higiene, outras maneiras de atravessar uma rua, outros deuses, outros modos de se vestir, outros sorrisos, outros ritmos – e essa incrível universal idade aniquila nossa soberba e desperta insuspeitas virgindades em nós, o que é sempre rejuvenescedor.
MEDEIROS, Martha. Um lugar na janela, Porto Alegre, RS: L&PM, 2016. Pg. 13 – 14