Tristeza de um pai
Há coisas que não deveriam acontecer. Pessoas queridas jamais deveriam morrer. Mas esse é o ciclo da vida. A morte é parte da vida da mesma forma que o entardecer é parte do dia.
Há situações, contudo, como a retratada, em que o ciclo é interrompido de forma a parecer uma grande injustiça divina. Temos em nosso interior a convicção de que os mais velhos devem ir primeiro do que os mais novos e sempre nos espantamos quando esta ordem é quebrada. É algo inevitável. A dor de perder um pai somente pode ser superada pela dor de perder um filho. Felizmente, até hoje não perdi nenhum. Apenas posso imaginar de acordo com as experiências alheias.
Reflito com frequência sobre o tema. Não quero morrer. Apenas faço reflexões porque o dia do meu fim certamente está cada dia mais próximo. Antigamente faleciam os avós dos amigos, depois de um tempo passaram a falecer os pais dos amigos. Atualmente, há amigos que se vão.
Acidentalmente, caiu-me em mãos um trecho de um livro de Martha Medeiros sobre o tema. Segundo ela, antes de nascermos havia uma ausência de nós mesmos. Depois de nossa morte essa ausência se torna infinita. A vida é um breve intervalo de tempo entre duas ausências. Somente se pode enfrentar a magnitude dessa ausência com o amor. É o amor por aquele ser que se foi que nos serve de sustento. É a alegria de ter podido amar aquela pessoa, no breve espaço de sua existência, que pode servir de consolo. Melhor ter o ente querido em nossas vidas, ainda que por um curto momento, do que a ausência representada por ele nunca ter existido.
São considerações filosóficas que ajudam a me preparar para aquilo que é inevitável. Tento me preparar para algo em relação ao qual não existe possibilidade alguma de preparação. Faço isso com a sincera impressão de que se puder optar, preferiria ir embora antes dos meus entes queridos. O mais difícil, certamente, seria saber que eles se foram e quem ficou fui eu.