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O ACIDENTE

Não se ouvia qualquer barulho de motor, mas o avião planava. Cada vez descia mais. Cada segundo estava mais baixo. Aproximava-se perigosamente do chão. Subitamente, talvez por força de uma corrente de ar, o avião novamente subiu. Quando a força da corrente de ar parou, fez um rodopio, desceu em linha reta e caiu. Dentro do meu purê de mandioquinha.

Essa foi a última traquinagem do Pedro, meu filho.

Como pai responsável, retirei a “perigosa” peça das mãos do menino procurando evitar que um novo pouso forçado ocorresse em outro lugar. Quem sabe na sopa de alguém. Não pude deixar de reconhecer, no entanto, o azar do guri e a graça da situação. Fazer o avião cair justamente no prato do pai é uma imensa falta de sorte, e a situação parece típica daqueles filmes da “sessão da tarde” que causam riso a todos.
Situações como essa muitas vezes me exasperam, pois a traquinagem é evidente e é preciso repreendê-la. Caso não o faça, o menino passará a achar engraçado atirar coisas no prato de comida dos outros. O problema é encontrar a justa medida.

Tentei encontrar respostas nos livros de psicologia. Compreendi que a repreensão demasiada pode inibir a criatividade do filho e acarretar um adulto ensimesmado. A repreensão a menor, por sua vez, tende a gerar um adulto sem limites. 

Busquei soluções na religião e na poesia. Lendo o padre Fábio de Melo compreendi que “educação é o processo amoroso de estabelecer limites”. Ao ler Ruben Alves, misto de teólogo e poeta, compreendi que “parte da educação é mostrar às crianças que a vida se faz também com o choro”. Lembrei-me também de Khalil Gibran, que ensinava que os nossos filhos não são nossos. Vem por intermédio de nós, mas não de nós e, por isso, não nos pertencem. Têm suas próprias almas. Não podemos fazê-los pensar como nós. Podemos dar-lhes o nosso amor, mas jamais nossos pensamentos.

Mesmo depois de tanta busca, não encontrei a resposta que almejava. Consegui obter apenas um norte. Apesar disso, cheguei a uma conclusão: tudo seria mais fácil se os filhos viessem com manual de instrução.

Artigo originalmente publicado no Jornal A Notícia
na edição de 19 de junho de 2015 
 

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