Narcisismo
Quando precisava mandar buscar alguma coisa no armazém, Pablo Picasso rabiscava uma pomba ou uma odalisca num papel e dava para a empregada pagar a conta. Certa vez, a empregada saiu para fazer um rancho levando um bico de pena razoavelmente bem acabado – a conta seria grande – e voltou com as comprar e mais um horrível desenho feito em papel de embrulho e assinado pelo dono do armazém, Monsieur Pinot. “O que é isso?”, quis saber Picasso, segurando o papel com a ponta dos dedos. “É o troco”, explicou a empregada. Desse dia em diante, dizem, Picasso olhava com respeito, cada vez que passava pelo armazém de Monsieur Pinot. Tinha encontrado um ego maior que o seu.
VERÍSSIMO, Luis Fernando. Verísismas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2016 P. 95