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Mudando para permanecer igual

O circo não é mais aquele. Mudou. E foi para melhor. A essência continua, mas a mudança é perceptível. Pude notá-la ao levar a família para assistir ao espetáculo do circense que se encontra em Joinville. Fazia anos que não ia ao circo. Minha lembrança era de arquibancadas bambas. Nunca entendi como não caiam. A lona sempre tinha furos que deixavam entrever o sol nos espetáculos diurnos.
O chão era de serragem, e boa parte do show era feita com animais. Alguns deles eram visivelmente sofridos. O ápice do espetáculo era o globo da morte, com uma estrutura de metal redonda e motocicletas, que nela rodavam, em um barulho ensurdecedor. Sempre que assisti essa apresentação fiquei preparado para fugir quando tudo desabasse. Felizmente isso nunca aconteceu.
A diferença em relação aos dias de hoje é gritante. Embora haja uma tenda, a estrutura não parece de circo. Funcionários uniformizados recebem as pessoas em um saguão que parece de teatro. As cadeiras são numeradas, e há até mesmo ar-condicionado.
O espetáculo também é diferenciado. Os diversos números fogem do óbvio. Sempre trazem algo de inesperado. No lugar das pombas brancas, que surgiam do nada, o mágico faz aparecer um helicóptero. A sequência das apresentações é feita de modo a desviar a atenção do público para a região do palco que está sendo adaptada para o show seguinte.
A razão de mencionar o circo, no último artigo que publico no ano, é que pude perceber que ele se reinventou. Em um mundo de alta tecnologia, e de intensa competitividade, precisou adaptar-se para poder sobreviver. Manteve a essência, mas mudou. É ao mesmo tempo igual e diferente.
O exemplo circense é importante nas reflexões de final de ano. Deve-se olhar para trás e perceber qual é a essência de cada um de nós. Isso é o que precisa ser mantido. O acessório pode ser descartado. Apegar-se a ele faz o ser humano envelhecer precocemente em um mundo que “respira mudança”. Separar o joio do trigo é o que farei nas férias que se avizinham. O próximo ano é um ano de reinvenção. É o que também desejo ao demais. Façam como o circo. Mudem para permanecerem os mesmos, na essência. Feliz ano novo.

Artigo originalmente publicado no Jornal A Notícia
em 30 de dezembro de 2014
 

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