Carpe diem
O ser humano é esquisito. É muito difícil compreendê-lo. Comecei a pensar nisso após saber que o ator Robin Williams se suicidou. Jamais poderia imaginar que alguém como ele sofresse de depressão. Como poderia alguém fazer rir com tamanha desesperança em seu coração?
Era um ator muito melhor do que eu supunha. Não interpretava apenas nos filmes. Atuava no dia a dia. Em casa, triste, mas ao sair pela porta afora interpretava um comediante.
Imagino que, sem mais energia para a sua apresentação diária, resolveu acabar com a própria vida. Preferiu morrer a aparecer como um sujeito triste e deprimido. Opção difícil, mas que faz certo sentido quando se percebe que ser feliz tornou-se algo obrigatório.
Como diria Vinícius de Moraes, “é melhor ser alegre que ser triste, pois a alegria é a melhor coisa que existe”. O problema é que “tristeza não tem fim, felicidade sim”. Felicidade não dura para sempre. A tristeza pode durar. O estado de espírito mais comum, no entanto, é o “normal”, sem grandes felicidades ou tristezas.
Em tempos de redes sociais, tornou-se quase obrigação estampar um largo sorriso no rosto. Quem navega por uma delas fica com a impressão de que estar triste ou ser normal é ser um peixe fora d’água. A maior parte das pessoas, no entanto, não conseguirá ser milionária, viajar o mundo, virar artista ou casar com alguém com estampa de modelo. Isso não significa qualquer problema.
É tautológico, mas é normal ser normal. É também comum estar triste em alguns momentos. Tristeza é um sentimento tão legítimo quanto a alegria. Não é doença. Fingir sentir algo que não se sente, no entanto, é patológico. É ser o que não se é. E esse caminho pode levar a uma doença chamada depressão.
É uma pena que Robin Williams tenha perdido a luta contra o mal que o assolava. É tragicômico, mas é possível imaginar que o Sr. Keating, personagem que ele interpretou em Sociedade dos Poetas Mortos, pudesse tê-lo salvado. Saberia exatamente o que dizer para evitar que alguém com tanta angústia no coração tirasse a própria vida: carpe diem (aproveite o dia).
Artigo publicado no Jornal A Notícia
em 1 de setembro de 2014